PERIPÉCIAS DE UMA MENTE INSANA

Eu sei que esse é só mais blog, dentre milhares que existem por aí. Com certeza ele não é o mais interessante, muito menos o mais bem feito e bem escrito. Eu sei também que ele é escrito por uma pessoa comum, como milhões que estão espalhadas nesse planeta. Sinceramente, não vejo nenhum motivo forte que possa convencê-lo a ler esse blog. Talvez quando eu descobrir, eu te conto.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010


   A menina que tinha em si todos os sonhos do mundo despertou ofegante de um sonho, no mínimo inusitado. Algum tempo depois, porém, poderia defini-lo como surreal, mágico e extraordinariamente minucioso. Aliás, o que aconteceu foi que a menina passou o resto da sua vida tentando encontrar adjetivos praquele sonho singular.
  Quando acordou estava com o coração transbordando em confete, com as pernas bambas e com a cabeça fervendo em lembranças. Afinal, era possível explicar o inexplicável? Como descrever com palavras aquele turbilhão de sentimentos que a invadiu naquela noite? Riu sozinha quando recordou os detalhes. Passou o dia inteiro rindo sozinha, o sorriso mais bobo que já pudera ensaiar.
   Lembrava-se claramente das poucas e significativas palavras dele: - Respira fundo! - Como se respirar fosse suficiente para oxigenar todas as suas células que queimavam como fogo em brasa. Uma deliciosa combustão, que parecia não ter limites. Sensações desconhecidas afloraram da maneira mais inesquecível possível. Esforçou-se para registrar no fundo da alma tudo o que descobria naquele momento, eternizando as reações impulsivas de um corpo que não a obedecia mais. Era engraçado não ser a primeira vez. E era especial ser a primeira vez daquela maneira. Intensidade alucinante. Talvez essas duas palavras pudessem resumir o que aconteceu naquele sonho.

sábado, 20 de novembro de 2010

Preciosidade Literária: Harry Potter e as Relíquias da Morte

  Os livros de J.K Rowling acompanharam fases importantes e deliciosas da minha vida. Destrinchei toda a saga de Harry Potter, dos meus 15 aos 22 anos. Os exemplares me acompanharam em diversos lugares, lia até caminhando (sim, tenho essa mania estranha). Passei por toda aquela ansiedade da espera dos lançamentos de cada um dos livros, assim como o filme que entrou em cartaz essa semana, que milhões de fãs aguardavam ansiosos!
  Pensei várias vezes em fazer as resenhas deles, mas acabava desistindo, por ser um assunto meio  "manjado", digamos assim. Porém, que ocasião melhor do que essa, quando eu estou ansiosíssima para assistir a-primeira-parte-do-sétimo-e-último-filme-das-histórias-mais-lindas-da-minha-adolescência! Que nervoso.

Óh o queridão alii!
Minha coleção Harry Potter *.* tá faltando "A Ordem da Fênix" pois emprestei pro meu irmão.
    O meu exemplar de Harry Potter e as Relíquias da Morte ainda estava lacrado, pois quando eu o adquiri já tinha lido o exemplar da biblioteca. Preferi guardar assim, e só abri pra ler de novo antes de fazer esse post.

   Este é o último livro da série que relata a vida do bruxo Harry e de todos as personagens que o cercam, de maneira profunda e recheado de descrições incríveis. Nessa obra, o bruxinho mais popular de Hogwarts (a escola de magia onde os bruxos aprendem tudo que é importante ou não) enfrenta o maior desafio de sua vida: a batalha final com Lord Voldemort. Pra quem nunca leu nenhum livro da série de J.K., a primeira coisa que deve ficar clara é que não se trata de uma leitura infantil.Existe muito preconceito por parte de quem nunca sequer leu uma linha dessas obras-primas. Posso declarar com convicção: não há como não apaixonar-se com o tom de aventura, emoção e amor que embala a história. A riqueza de detalhes realmente impressiona, as sacadas da autora são geniais, no penúltimo livro ainda encontramos esclarecimentos de fatos que ocorreram no primeiro. Para se ter uma ideia dos leitores, meu irmão de 27 anos adora, minha mãe é fã e eu amo muito.

   O Lord das Trevas, maior inimigo de Harry e da comunidade bruxa, está de volta e mais forte do que nunca. Harry está com 17 anos, cheio de dúvidas e questinamentos que abalam a adolescência de qualquer um. Além disso, Dumbledore, o maior ídolo de todas as gerações de bruxinhos que frequentam Hogwarts está morto, e muitas dúvidas assolam todos aqueles que o conheceram. Harry e seus amigos passam a ser perseguidos por Voldemort e os comensais da morte e precisam se esconder rapidamente, em diversos lugares diferentes. A história desenrola-se com muitas descobertas por parte do leitor, durante uma leitura envolvente, que nos faz prender a respiração diversas vezes.
   Durante toda a obra, os melhores amigos da série, Harry, Rony e Hermione, se veem enredados numa teia de desconfianças e anseios. A amizade é posta a prova, transformando-se num cenário à parte, tão ou mais importante que a batalha final com Voldemort. Cada um deles possui temperamento distinto, o que torna a relação e o convívio dos três num desafio a mais. Com a ajuda dos bruxos mais experientes, eles conseguem esconder-se e continuar na busca pelas Horcruxes, que são a única maneira de derrotar o Lorde das Trevas. Tentando tornar-se imortal, Voldemort dividiu seu corpo em 7 Horcruxes e as escondeu em lugares incrivelmente inusitados, e a missão de Harry nesse último livro é destrui-las.
 
   Infelizmente, não há como resenhar toda a complexidade do Universo de Harry Potter. Ele foi construído durante 7 anos, de maneira impecável, empolgante e emocionante. Uma obra que deveria ser lida por todas as idades e em todas as partes do mundo. A minha dica pra quem não conhece ainda é: leia! Permita-se conhecer o trabalho dessa escritora maravilhosa e simples, que magicamente encheu as nossas vidas de alegria e marcou uma geração.
                                                                      
Este livro
é dedicado 
a sete pessoas:
a Neil,
a Jessica,
a David,
a Kenzie,
a Di,
a Anne,
e a você,
que acompanhou
Harry
até o
fim.

Difícil é ler a última linha e se dar conta que não só a adolescência de Harry acabou, mas a minha também.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Preciosidade Literária: O Dia do Curinga, de Jostein Gaarder

   Provavelmente, você já deve ter ouvido falar da obra prima mais conhecida do escritor Jostein Gaarder: "O Mundo do Sofia". Em caso negativo, ainda tem tempo de aprofundar-se no mundo da filosofia, da forma mais simples e deliciosa possível.
   A primeira vez que tive o prazer de viajar no mundo de Sofia, fiquei simplesmente deslumbrada. Eu tinha 14 anos e uma veia leitora mais pulsante impossível. Eu fazia teatro nessa época e achava-me capaz de realizar todos os sonhos do mundo.



     "...Ele apontou, então, para todos aqueles turistas que saíam aos montes do ônibus estacionados lá embaixo, perto da entrada, e subiam como formigas pelo terreno acidentado onde estavam as ruínas do templo.
- Se no meio de todas essas pessoas houver apenas uma que se surpreenda com a vida a cada instante e tenha a sensação, toda vez que isso acontece, de estar diante de algo fabuloso e enigmático... - Respirou fundo e prosseguiu: - Você está vendo um monte de gente lá embaixo, não está, Hans-Thomas? Pois bem... se apenas uma delas experimentar a vida como uma aventura fantástica... e se ele ou ela experimentar essa sensação, todos os dias...
- Sim? - perguntei ansioso, pois pela segunda vez ele não tinha completado o que queria dizer.
- Ele ou ela será um curinga no baralho.
...
- Toda a manhã acordo com um estalo. É como se a cada manhã alguma coisa me lembrasse e que estou vivo, de que sou um ser vivo vivendo uma ventura fantástica. Pois, afinal de contas, quem somos nós Hans-Thomas? Será que você pode me responder? Somos feitos de uma pequena porção de poeira estelar. Mas o que significa isso? De onde vem esse mundo, afinal?
- Não faço a menor ideia - respondi, e me senti tão por fora nesse momento quanto Sócrates.
- E de vez em quando esse pensamento me vem à cabeça, sem marcar hora, bem no meio da noite. Sou uma pessoa e só vou viver essa única vez, penso. E depois nunca mais vou voltar. " 


   O Dia do Curinga é muito mais que uma obra de iniciação à filosofia. Explora, originalmente, a percepção e a capacidade de reflexão do leitor, que percebe-se totalmente absorto a cada capítulo. O foco principal da história é o garoto Hans-Thomas e o seu pai, que partem para Atenas na busca da mãe de Hans, que os abandonara há oito anos para encontrar a si mesma. Como uma boa obra de ficção, paralelamente, diversas situações se desenrolam. Durante a viagem, o menino encontra um padeiro, uma lupa, um livro minúsculo com letrinhas miúdas e um anão suspeito que os segue em todos os lugares. No livrinho, Hans testemunha uma história  que considera verídica, sobre uma ilha encantada onde viviam cartas de baralho - cada qual com a sua função - e que acaba transformada quando nela chega o Curinga, que "se infiltra na ilha como uma cobra venenosa". Havia também o Mestre da ilha, que planejara e construíra tudo e a bebida púrpura, que aguça a inteligência e a perspicácia de quem a ingere e com o tempo, retarda o fluxo do pensamento e faz perder o senso de direção.
   Enquanto as indagações acerca do misterioso livrinho surgem na cabeça do menino, suas conversas com o seu pai se tornam cada vez mais densas e interessantes. O pai de Hans-Thomas é um filósofo desempregado, que enxerga a vida de maneira singular e apaixonante e procura um novo sentido para tudo que existe no Universo.

"...Depois de uma pequena palestra sobre as cruzadas e os cruzados, meu pai disse:
- Você sabe que eu me interesso pelo universo, não sabe, Hans-Thomas? Interesso-me por planetas, principalmente por planetas vivos.
    Não respondi. Nós dois sabíamos que aquele era um tema pelo qual ele se interessava muito. Não obtendo resposta, ele prossegui:
- Você sabia que acabaram de descobrir um planeta cheio de mistérios, habitado por alguns milhões de seres inteligentes, que andam sobre duas pernas e vêem o seu planeta usando duas lentes vivas?
    Tive que admitir que aquilo era novidade pra mim.
- Esse pequeno planeta é unido por uma complicada rede de vias, onde esses sujeitos inteligentes se locomovem em máquinas coloridas.
- É mesmo?
- Yes, sir! E sabe que os misteriosos habitantes desse planeta chegaram mesmo a construir edifícios enormes, alguns com mais de cem andares? E que por baixo desses prédios escavaram longos túneis por onde máquinas elétricas correm sobre trilhos?
- Você tem certeza? Mas como eu nunca ouvi falar desse planeta?
- Bem - explicou meu pai - Em primeiro lugar porque ele foi descoberto recentemente; e em segundo, porque temo que ninguém além de mim o conheça.
- Onde fica esse planeta?
- Aqui mesmo! - disse ele, e bateu com a mão no painel de instrumentos do carro. - Este é o planeta misterioso, Hans-Thomas. E nós somos dois desses sujeitos inteligentes; dois sujeitos que, neste exato momento, estão rodando pelas estradas da vida num Fiat vermelho!
    Por alguns segundos fiquei amuado por ele ter me pregado uma peça. Entendi, então, que só estava tentando me dizer o quanto é incrivel este mundo em que vivemos. E o perdoei imediatamente."


   Entre enigmas e visitas às moradas de antigos pensadores filosóficos, Hans-Tomas e seu pai dão uma oportunidade  única ao leitor: a de refletir sobre o verdadeiro significado da vida e de todos os mistérios nela inseridos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

  Naquela tarde, a menina que tinha todas as vontades do mundo foi arrebatadoramente surpreendida. Realmente, acreditava ser impossível impressionar alguém como ele. Ficou nervosa. Falou um monte de besteiras, e mesmo assim ele riu. Foi como se levasse um choque ao tocar a ponta dos seus dedos, sem querer. Estremeceu, quando de leve encostaram o braço um no outro.
   O mais mágico foi ter sido cortejada, assim, quase sem querer, depois de tanto tempo no anonimato. A insegurança amarga e intrínseca, companheira por toda a vida, deu lugar àquela sensação indescritível que a fez sentir viva novamente. Alimento essencial para a alma, sedução silenciosa e tênue, como se não houvesse pretensão de se tornar real. Afinal, se pudesse, se entregava e agia sem pensar.
   A medida de tempo desapareceu -como sempre acontecia em ocasiões com essa, estava se divertindo, afinal- e o estômago queimou como um rastro de pólvora. Na despedida, dois corações apertados pela sensação do proibido e dois corpos afoitos, na ânsia de desbravar a boca alheia e sentir o gosto do beijo que nunca aconteceu. Cresceu rápido e, monstruosamente, virou a química perfeita, como se a felicidade dependesse daqueles breves instantes de conquista. Desejou mais do que tudo ser invisível, apenas mais uma na multidão, sem ninguém pra explicar o que não tinha explicação. Sem vínculos, sem amanhã, sem antes, apenas estar ali e se deixar levar por aquele toque inebriante, por aquele perfume suave e sincero, por aquele sentimento novo que virou a sua cabeça em poucos instantes.
   Um demorado beijo no rosto, a mão na cintura e o adeus. Até quando? Impossível saber, pois a única certeza que tinha era uma vontade extasiante, que a acompanhou na volta pra casa.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

  

  Olhava-me de maneira hipnotizante enquanto eu tentava desviar o olhar, sem sucesso. Nossos corpos pareciam barras de ferro imantadas, resistindo bravamente a uma atração avassaladora, que nenhuma lei da física jamais descreveu. Minhas mãos permaneciam frias e o meu coração nem ao menos recordava-se do que estava acontecendo. Batia tão rápido que era possível escutá-lo a quilômetros, aos tropeços e solavancos, queimando e derretendo ao mesmo tempo.
   Os 13 centímetros que nos separavam ora pareciam uma sólida parede de concreto, ora confundiam-se com uma intrigante vontade de chegar mais perto. Mesmo que parecesse errado estar ali, uma atmosfera de magia e sedução inflava-se a qualquer sinal de movimento. 652 palavras foram ditas, 37 minutos transcorreram e uma infinidade de sensações afloraram. Quando quis evitar seus olhos pela última vez, fui surpreendida com uma frase que me deixou desesperadamente atônita:

   -Você é apaixonante - ele me disse.

   Fui embora sem olhar pra trás, com lágrimas brotando do meu coração inseguro.